Poem to a Bird
Queria eu
escrever sobre simbiose, tipo de relação animal em que dois indivíduos
compartilham de uma associação mutuamente vantajosa. Mas não o farei.
Recordei-me que simbiose envolve uma relação de obrigatoriedade. Então complico
um pouco mais o termo, falo aqui sobre protocooperação.
Protocooperação
sugere algo mais harmonioso, sem, entretanto, uma relação de exclusividade. Ou
seja: ambos são beneficiados, mas um pode viver independente do outro. É
benéfico, mas não indispensável. Poderia citar alguns exemplos, mas
concentro-me em apenas um: a relação pássaro Cavalo.
Dentre
os pássaros alguns desenvolvem hábitos um tanto peculiares, talvez como espécie
não se enquadrassem em algum tipo de cooperação, mas alguns indivíduos
curiosamente fogem à regra. Não se contentam apenas em fazer o que os demais
pássaros fazem, estes são diferentes... Tão diferentes que não se pode entender
completamente o porquê disso.
Este
tipo de pássaro, livre, aprende que pode se beneficiar de relações improváveis
e não necessariamente depender apenas delas. Como os que pousam no lombo de
cavalos à procura de parasitas que servem de alimento. Ou apenas por descanso,
ou talvez porque se sinta mais protegido do predador. Fica por um tempo, vai trabalhar,
estudar e não depende apenas disso. Ele sabe que não pode e não depende apenas
do cavalo, mas sempre acaba voltando.
Mas
e o cavalo? O cavalo, animal um tanto assustado e ressabiado, não se importa
com o pássaro ali. Ao contrário, é grato aquilo que vem sem avisar, retira o
que lhe fazia mal e depois some. O curioso é que as bicadas do pássaro por
vezes podem feri-lo. Porém o grande animal, embora sinta alguma dor, parece não
se incomodar. Sabe que não fosse isso não teria também o alívio de tantas
outras bicadas certeiras. E segue andando pela casa, sai, sabe que pode contar
com aquela surpresa vez por outra.
É
um tanto difícil de explicar. Sabe-se que pássaro e cavalo não tem consciência,
eles apenas fazem o que fazem por instinto. Entretanto se ajudam. Tão natural
quanto voar à procura de alimento ou o galope despretensioso no campo nativo.
Eles são livres, não se veem obrigados a suportar o que não querem.
Mas
pássaros não trabalham nem estudam e cavalos não andam pela casa. Entretanto
esses não são pássaro e cavalo comuns, talvez nem bichos o sejam. São amigos
que não exigem obrigatoriedade mas sabem desfrutar do companheirismo e
qualidades um do outro. E protocooperam-se...
Ass.: Um Cavalo.
Anderson Tavares Vargas
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