Hoje

Seria mentira se eu dissesse que estou feliz por que estou apaixonada, não é.
Não que não haja pelo que ou por que quem se apaixonar, mas é que tem sido mais do que isso.  Tem sido o inverno, que já desperta em mim uma serenidade, uma vontade de andar, de viver. A ausência do vento quente e do sol escaldante dessa cidade, só se sente algum alivio quando se estiver beira-rio, mas de resto é tudo sol e suor. O verão me cansa, e nele parece morar o ano quase inteiro.
Mas além do inverno, tem esse gosto de consciência raleando, de recomeço, restart cognitivo, pensar sobre sentir pela primeira vez não é algo proibido, mas sim recomendado, reforçado e agraciado. Esperei um pouco pra sentir isso. Por ser uma criança acordada não apressava a vida adulta, mas sabia que gostaria de me sentir com menos dúvidas.  Mais uma vez esclareço, não é que não haja mais questões, são tantas agora como sempre foram e serão por muito tempo ainda. Mas é que agora poucas coisas importam poucas pessoas. Depois de tanto errar e tropeçar na mesma pedra, e ter de confessar todas as vezes que tropecei, as pequenas inquietudes foram perdendo sua importância, bem como minha mãe disse que seria. Mas diferente do que me transmitia o tom de voz que usavam comigo quando falavam disso quando pequena: “Deixe estar, quando você crescer você vai saber o que é isso...” esse me parece um momento bem satisfatório, pra se sorrir um sorriso ‘monalisa’ calmo, quieto e brando, mas cheio de significado e paciência. Acho que se me deparar com um pequeno reclamando da vida ou levantando polêmicas e não me sobrasse nada pra dizer se não que isso vai passar, eu diria com uma felicidade de quem foi sorteada: “Quando você crescer você vai saber o que é isso...”
Talvez o lado ruim de estar um mínimo mais velha ainda vai chegar, me dirão os que estão 5, 10, 15 anos na minha frente. Mas compreendo que muitos desses têm uma necessidade de fazer as coisas parecerem doloridas por que foi essa a diferença que viram entre os seus amados pais e irmãos e eles mesmos e ainda vêem, despreocupação total x sofrimento extremo. Lamento que tenham sofrido tanto, mas não será assim sempre e para todos. Sempre haverá exceções. Li de um amigo esses dias algo que expressava mais ou menos que existem diplomados incompetentes, analfabetos que dão lições de vida, crianças que já viram de tudo e velhos inexperientes, talvez fosse uma citação de alguém importante a quem eu deveria dar créditos, mas não recordo. O que quero dizer por fim, é que estou apaixonada pela época, e talvez dela sempre sinta saudades, as músicas que agora ouço me trarão nostalgia, os perfumes que sinto trarão lembranças, as pessoas as conversas, esses dias de chuva e quantas vezes esqueci o grada-chuva em algum lugar... É eu tenho isso de escrever e falar me justificando, mas é por que temo e detesto ser corrigida por algo que é irrelevante entender agora ou mais tarde. Bem, talvez logo mais não me importe tanto, ou não me justifique tanto assim.

Mas de resto, estou vivendo bem agora, embora logo mais não vá parecer. É que estou infinitamente submersa em mim mesma. Tenho tentado não fazer tanto drama, feito até um esforço considerável, mas a quantidade de sós, tantos, mins, eus, sempres e nuncas que uso em quase e todas as frases que escrevo, ilustra que isso pode NUNCA mudar, mas EU tentarei SEMPRE. SÓ que talvez isso faça parte de MIM. Quem sabe?

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