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Mostrando postagens de janeiro, 2021

Apena

Essa semana você soube que estou apaixonada por você Tentei não chorar de vergonha na hora e curtir o resto do tempo, mas hoje tudo veio de vez. Mesmo tendo achado um abuso a forma como você arrancou a informação. Mas reconheço que por mais suave que tivesse sido ela não era sua. Era minha. O sentimento é meu.  Acreditei fortemente que passaria antes que você pudesse saber, e talvez daqui há 10 anos numa roda de vinho e amigos em comum, a gente falasse sobre paixões passadas e eu talvez dissesse: eu fui apaixonada por você por um tempo. Eu não contava olhar pra você quando você soubesse disso e ainda ser uma realidade. Não foi só algo que não saiu como planejado, mas um prenúncio de um monte de coisas ruins que já me aconteceram. Informar a um homem negro que você tem sentimentos por ele, na minha trajetória, é quase como jogar água num equipamento eletrônico e esperar bom funcionamento. É a forma mais seca de despedida.  Sinto que devo me afastar agora. E esse sentimento é além de tri

Psíquica

 Eu não lembro da primeira vez que aconteceu Mas lembro de algumas ocorrências Dentro de algum trato social básico Alguém diz algo e uma frase fica pendurada Pra mim o fato é tão gritante como se parte do rosto da pessoa tivesse caído e se segurasse por pouca pele ali pela altura do queixo Eu aponto: algo ficou pendurado A pessoa não nota, não vê, ninguém vê. Eu penso comigo mesma a primeira coisa que penso quando qualquer coisa acontece: será uma alucinação? Afirmo: alguma coisa ficou pendurada, uma frase, uma palavra, uma ideia, tem algo pendurado, algo não foi dito. A pessoa nem checa a si mesma porque ela sabe o que é mas não quer dizer, e afirma: não tem nada a dizer, é só isso. Então o processo começa e eu já sei que vai piorar A respiração fica lenta, pela taquicardia Respirando com dificuldade perco um pouco de atenção e equilíbrio Algo pulsa dentro dos meus ouvidos e sinto como se cabos saíssem deles e me ligassem a algum lugar O estomago revira e algo insiste em sair dos meus

Oceano raso

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  Eu sempre demoro a tirar nossas coisas do café da manhã. Amo estar só, mas adoro a sensação que me invade quando chego em casa E é quase noite, mas duas xícaras sujas de café repousam em cima da mesa da cozinha Tenho a impressão de que quando eu ligo a luz elas congelam num susto. Quase como se fossem flagradas conversando, rindo de alguma coisa. Como a gente geralmente faz, ali sentados a mesa, como se tivéssemos todo tempo do mundo. Eu tenho uma rotina intensa e meio absurda as vezes. Mas nunca quando você vem. Pra você eu sou inteira tempo livre e tranquilidade. Nem é que eu simule isso mas na verdade não seja, é que eu sou mesmo uma amante disponível.  Eu sou uma mulher fácil. Não me proponho a jogos, coisas não ditas, mistérios, segredos… dizem que eu sou o exato tipo de mulher que não interessa a pessoas como você. Na teoria você gosta do turvo, do não dito, do oculto. Eu não tenho mistério, eu troco as roupas de cama antes de você chegar, e não uso seu travesseiro p
Ontem a noite, pela primeira vez em todo esse tempo de pandemia eu tive vontade de ir pra rua Voltando de uma prova, passei pela praça e vi as famílias passeando e as pessoas se divertindo, conversando, comendo. Como se o vírus não as atingisse. Estivessem protegidas, do outro lado. Eu nem lembrava o quanto eu gostava dessa praça, e não sei porque vim tão pouco nela durante esses quase 29 anos.  Queria muito chegar em casa, deixar minhas coisas e voltar andando pra ela, sentar, encontrar alguém pra conversar.

Des-culpa

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Eu perdi minha característica mais notável, a paciência  Mas acho que no fundo, no fundo as pessoas sempre se enganaram nesse aspecto Eu tenho paciência pra tudo menos para o afeto De afeto eu tenho urgência Uma urgência violenta e ruidosa Como uma onda forte que quando quebra, quebra também os silêncios, os momentos e as entrelinhas De afeto eu sempre falo tudo Eu quero tudo  Eu ofereço tudo  Meu corpo treme, o sono falta, a fome some ou soma Eu faço tudo desatentamente Sempre me desculpo Mas me des-culpar não me isenta da febre Não abafa o ruído, não acalma as ondas  Não impede que eu afogue o  afet(ad)o Que eu não o assista sufocado, lutar pra respirar Que eu não me culpe por ir tudo tão de vez sempre Que eu não tema que ele não suporte, que sucumba e alguém arraste só o corpo para fora Não impede o sentar na beira depois que a água tudo matou  Não impede que eu culpe a minha culpa, e a minha desculpa.  A culpa de ser naturalmente um grande corpo de agua A desculpa de estar afeiçoad