Des-culpa
Eu perdi minha característica mais notável, a paciência
Mas acho que no fundo, no fundo as pessoas sempre se enganaram nesse aspecto
Eu tenho paciência pra tudo menos para o afeto
De afeto eu tenho urgência
Uma urgência violenta e ruidosa
Como uma onda forte que quando quebra, quebra também os silêncios, os momentos e as entrelinhas
De afeto eu sempre falo tudo
Eu quero tudo
Eu ofereço tudo
Meu corpo treme, o sono falta, a fome some ou soma
Eu faço tudo desatentamente
Sempre me desculpo
Mas me des-culpar não me isenta da febre
Não abafa o ruído, não acalma as ondas
Não impede que eu afogue o afet(ad)o
Que eu não o assista sufocado, lutar pra respirar
Que eu não me culpe por ir tudo tão de vez sempre
Que eu não tema que ele não suporte, que sucumba e alguém arraste só o corpo para fora
Não impede o sentar na beira depois que a água tudo matou
Não impede que eu culpe a minha culpa, e a minha desculpa.
A culpa de ser naturalmente um grande corpo de agua
A desculpa de estar afeiçoada
Torrente. Tsunami.
Eu só aconteço em altas doses
Meu mais lento, despretensioso interesse é um Pacífico
Violento, muito, salgado e molhado.
O que é tempestade pra um homem , pode ser o gozo do céu.
Devo pedir desculpa por gozar?
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