Apena

Essa semana você soube que estou apaixonada por você

Tentei não chorar de vergonha na hora e curtir o resto do tempo, mas hoje tudo veio de vez.

Mesmo tendo achado um abuso a forma como você arrancou a informação. Mas reconheço que por mais suave que tivesse sido ela não era sua. Era minha. O sentimento é meu. 

Acreditei fortemente que passaria antes que você pudesse saber, e talvez daqui há 10 anos numa roda de vinho e amigos em comum, a gente falasse sobre paixões passadas e eu talvez dissesse: eu fui apaixonada por você por um tempo.

Eu não contava olhar pra você quando você soubesse disso e ainda ser uma realidade.

Não foi só algo que não saiu como planejado, mas um prenúncio de um monte de coisas ruins que já me aconteceram.

Informar a um homem negro que você tem sentimentos por ele, na minha trajetória, é quase como jogar água num equipamento eletrônico e esperar bom funcionamento. É a forma mais seca de despedida. 

Sinto que devo me afastar agora. E esse sentimento é além de triste meio paralisante. 

Eu não sei se sinto isso porque é a coisa mais coerente a fazer pelos avisos que você me deu ou se é como uma tentativa de proteção. Partir antes que você se vá. Não combina em nada comigo, mas desde que nós eu tenho funcionado muito ao contrário de mim.

Vocês sempre partem de modo duro demais. E as vezes eu penso que nenhuma outra partida doeu tanto quanto essa doerá. Porque tem muito a ver com o motivo de Osum não vir me ver mais. E de tudo de mal que tem me acontecido.

Tem a ver com o vão entre o que eu gosto de ter com você, essa coisa carnal e despretensiosa... e aquilo que está disponível pra nós, tudo que quero viver com você. As lembranças antigas que tenho. As visões, os retratos que vejo, e que você nem quer saber o que é. 

Osum bem entende quando uma mulher só quer ser satisfeita, intensamente desejada. Mas não quando ela quer algo e desiste por que não pode ter. Suas filhas precisam ter aquilo que desejam. Quando Ela me pede que não me relacione sem admiração, respeito e flores não é literal, mas é sobre não me conformar com menos do que eu quero ter. 

Eu creio frequentemente que posso enganar a mim e a você estando contente com o que temos por que é bom por hora, quando na verdade mesmo amando tudo do jeito que está o impedimento claro de toda a minha intensidade de querer e viver o afeto me é limitadora. 

Eu insisto, amo o que temos exatamente como é. Só que estou aceitando e me conformando com menos do que desejo não para hoje, mas para um futuro que muitos não sabem se existe, mas eu vejo e sei. E nem é querer mais perto, ou fundo, mais enlaçado, não tem compromisso... só é mais longo. Mais porto seguro a despeito de todas as viagens que faremos juntos e separados nessa vida, de todos os amantes que ainda teremos, das línguas que conheceremos, das noites que passaremos tão longe um do outro física e afetivamente e ainda seremos nós, e das outras que eventualmente nos convidaremos a ser dois de novo. Sem fim. O que eu quero que nós seja o ter para onde voltar.

Quem mata tudo de bom que floresce em nós, então, sou eu, com o desejo errado. 

Eu queria que você soubesse depois que tivesse passado, porque aí eu podia desejar algo diferente e assim, vivendo o que desejo, duraríamos o suficiente pra ambos e para tudo que podíamos ser.

Mas meu desejo muito quer afogar as partes e consequentemente o todo.

Talvez você nem parta, talvez você nem fuja, talvez você entenda.

Mas ao mesmo tempo que parte de mim quer se ater a essa possibilidade, a real possibilidade de não insultar sua inteligência e coragem pra vida de ficar, a outra parte me olha impaciente e diz: ele é só um menino, a quem você quer enganar?

A mim mesma. Ou a maior parte de mim só quer estar enganada.

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