Morte

Sobre a morte eu penso sempre em 3 grupos
Pessoas que morrem numa esquina, por acidente ou por incidentes mas que levavam suas vidas com naturalidade.
Pessoas que nascem com predisposição a doenças degenerativas ou estão em estado terminal e que querem muito viver.
Pessoas que nasceram propensas a pensar que deveriam estar mortas e em algum momento acabam morrendo de verdade.
Nada acontece comigo nas esquinas e não estou doente.
Estou no terceiro grupo.
Não me refiro a dias ruins onde se acha que morrer é a solução.
Falo de todos os dias. Falo de não encontrar alternativas. Falo de cansar de ficar cansado e nunca descansar.
Falo de mim.
Eu planejei me matar pela primeira vez quando tinha 9 anos.
Desde então nunca parei.
Algumas pessoas falam que quem planeja e não se mata é por falta de coragem.
Eu acho que é por falta de covardia,
É muito mais fácil não se importar com o que vai acontecer a partir do dia seguinte só por que você não estará lá.
É fácil abandonar as contas, as dividas com as pessoas, as consequências dos erros.
Difícil é ficar.
Difícil é deixar as coisas simplesmente acontecerem, ou não, lidar com os dias de perdão e os dias de raiva, lidar com a dor que inevitavelmente causamos as pessoas com quem convivemos, com a entrada e saída de pessoas em nossas vidas.
Difícil é não esconder isso das pessoas, saber que ao saber de algo assim as pessoas sempre pensarão em ir pra mais longe de você possível, ou pra tão perto, tão dentro que chegariam a te anular.
É saber que os pares e os amores não vingarão.
É aguentar a partida para a zona do esquecimento ou a zona da amizade por compaixão.
É lidar com a queda das esperanças que criamos um dia para justificar estar lá no outro.
É suportar o modo como os outros sempre pensarão que não existe motivo pra sentir isso.
É chegar num momento que você sabe que não tem mais motivos e ainda assim ficar.
É não ir só por que as coisas não estão boas e nem propensas a melhorar.
É se acostumar a nunca encontrar respeito.
É não conseguir dormir, não conseguir acordar.
Ficar apesar de, apesar de, apesar de.
A dor e a coragem são dons.
Mas acho que são uma péssima combinação.
E eu tenho os dois.
Nos dias em que refiz meus planos de suicídio sempre pensava em escrever cartas.
Hoje não penso mais. Serão sempre mal interpretadas e você não estará lá pra explicar.
Hoje por sinal revisei meus planos e até achei meio clichê mas pela primeira vez não liguei pra isso.
Só desejei reunir covardia. Mas não consigo. Não posso.
E fico aqui a mercê do próximo evento, da próxima hora, do próximo dia, do próximo ano.
Do próximo plano.
Sem força pra embalar a vida por que gasto toda que tenho me mantendo viva. E tenho muita.
Estou viva há 23 anos.
Pra viver ainda aguardo.
Estou morta há 23 anos.
Pra morrer, aguardo um dia.

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