Chuva Ácida


O mundo está pegando fogo, sabe?
Está tudo insuportável, todo mundo diz o que quer quando pode ficar calado e fica calado quando deveria dizer algo.
Tocaram fogo, literalmente, em vários ônibus... tem um bairro todo sem água, não tem vacina. Tem gente fazendo festa na mesma proporção que tem gente fazendo velório. A TV se diverte mais com tudo isso do que diverte a gente.
O presidente é genocida, mas é só a ponta do iceberg. Está todo mundo um pouco assassino, um pouco suicida.
E eu queria que a gente tivesse definição.
Queria já estar rica deitada num palacete, num quarto com uma grande porta de vidro pra varanda, vendo a chuva cair com você no meu peito.
Os sonhos dos pobres parecem simples. Mas por alguma razão assustam os ricos.
Nem é com dinheiro que a gente sonha
É com o momento ininterrupto.
É a gente deitado sem nada que nos obrigue a levantar senão vontade.
A chuva não molha a casa, não tem hora de trabalho que nos comprometa a subsistência.
Não temos que cuidar de nada nem ninguém que o Estado não dá conta.
Temos saúde, comida, nenhum dos nossos passa fome, ninguém de ninguém.
Tem vacina , tem comida , tem casa, tem onde todo mundo estar... mesmo quando chove.
Eu sonho acordada com isso.
Mas lembro que talvez você nem queira isso agora, ou quando imagina, queira com outra pessoa, e isso me da vontade de tocar fogo num ônibus e que tudo mais se exploda.
Talvez eu queira mais que a gente tenha definição do que a cura do mundo.
Talvez eu tenha um pouco do genocida em mim também.
Quem sabe o genocida, o incendiário, o assassino, o vírus, o mal do mundo seja um amor sem definição.
Mal gerido, mal aceito, egoísta.

Talvez o mau do mundo seja (o) eu. 




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