Sóis

Você sempre reclama de mim.
Reclama dos meus olhos quando o sol das 16 reflete neles.
Acho que você só viu isso uma vez, meus olhos contra o sol.
E ainda assim reclama deles.
Que são estranhos, perturbadores, intimistas, devoradores.
Eu já penso diferente.
Acho que olhos contra o sol não mentem, não escondem, nem fogem.
E acho que é disso que você não gosta.
O que você sente é medo.
Medo de mim.
E do que eu sou quando não minto, não escondo, não fujo.
Você tem medo de eu pedir pra ficar.
De eu estabelecer morada em você.
De eu construir outro império no nada.
De eu ser a única opção e de você nem perceber.
E de eu passar, de eu me pôr.
E de não voltar na manhã seguinte.
É disso que você tanto reclama.
Do risco de eu, mesmo sendo tão carente de beleza
e presença, acabar sendo seu Sol.
De seu amor não ser uma estreia, uma estrela.
Medo de ter como astro uma pessoa desbotada ]e cheia de manchas, amassada.
Sem nenhuma apresentação.
E então, deve ser muito ruim ser você no momento
 em que se der conta disso.
Quando perceber que não vai haver colo que melhor lhe caiba, beijos que te saciem.
Corpo que lhe revigore. Mãos que te completem melhor do que essas que lhe escrevem.
Que te transformam em papel ou tela de computador.
E esses olhos... esses mesmos olhos estranhos contra o sol.

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