O dia em que sonhei

Se tive sonhos, era muito menina e não me lembro.
Sim, lembro de querer trocar de nome, morar em casas antigas e de ter filhos.
Mas não eram sonhos, não quis ser bailarina e nada me apetecia por muito tempo.
Só dizia querer muito uma coisa quando percebia que isso agradava, pra agradar sempre me dispus.
Mas sonho meu mesmo, se tive não lembro.
Você é muito sonhador. Acho que pode ser sua maior qualidade e maior defeito.
Se não fosse assim, nunca chegaríamos a ter ficado juntos.
Quem em sã consciência insistiria num romance impossível?
Só um sonhador. Não sou com certeza a mulher dos seus sonhos. E eu nem sou uma pessoa de sonhos.
Não era pelo menos, até ver os seus. E começar a desejá-los.
Desejar estar neles e torná-los reais para nós dois.
Agora sonho. Dormindo muito pouco, mas sempre acordada.
Sonho em estar do seu lado, uma casa, um ninho.
E assim descobri por que nunca sonhei antes.
Sonhar é um desejo tão forte e tão profundo que
conseguimos sentir num nível tal de inconsciência que o fazemos dormindo.
É um querer que fica arraigado em nós, e cresce a cada dia como se fosse uma hora transbordar e ficar derramando sem achar quem feche a torneira... e derrama, derrama, derrama.
Sonhar sangra tanto. Dói tão profundo.
Por que se o que se sonha fosse real não sonhava, acontecia.
Sonho é a prova mais concreta da dor de existir.
A prova de que não se alcançou o almejado.
A dor de querer mais que tudo, que quase tudo que se tem, e não ter.
E esse problema que eu não tinha, e agora tenho.
Já que me ensinou a sonhar, por que não me ensina agora a viver meus sonhos?
Sonho de estar com você, todos os dias até o fim, ou a eternidade de nós.
Me ensine a lidar com isso já que introjetou isso em mim, que me ensinou esse novo modo de sofrer.
Essa nova dor... que não era minha.
Esse novo querer... que não era meu.
Não vá embora assim.
Não me deixe só.
Por favor.
Está ficando tudo escuro e quieto.
Eu tenho medo de dormir e acordar.

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