Desabafo II

Já tem mais ou menos 6 meses que estou tentando sentar e escrever, mas...
Agora por exemplo demorei mais de vinte minutos pra terminar a sentença acima.
Não tenho muitas boas lembranças da época que eu também não conseguia escrever.
Foi exatamente em agosto de 2008, eu publiquei aqui um ultimo suspiro que foi seguido por meses de silêncio:

"Encontro-me hoje cansada.
Todos os dias, cheia de dores e problemas que descobrir serem imaginários.
Hoje eu sei que minha dificuldade vem do meu cinismo.
Cinismo que mostro em achar que posso segura-lo.
Sem fazer esforços, sem fazer sacrifícios.
É um amargo engano.
É uma falsa justiça.
Minhas ridículas tentativas de evitar perdas e driblar conseqüências me trouxeram a um patamar estreito.
Estou quase caindo.
E talvez sofra uma perda avassaladora.
Estou assustada.
Mas sou muito cínica pra tomar uma atitude e evitar a derrocada.
Encontro-me no fim da futilidade humana.
Fútil e humana: é impossível piorar!"

Tinha 16 anos, julgava ser a pior fase da minha vida, com otimismo seria a pior, depois da infância perturbada pelo medo e pela imaginação conturbada, por sorte os 16 seriam os piores, pois já estava passando. Era o que todo mundo dizia: "isso que você está passando é normal, pare de se concentrar em si mesma e quando menos esperar já acabou."
Engano meu, estou agora no auge dos meus 23 anos de idade,em julho de 2015 com  o mesmo nó na garganta que eu adquiri em 2001.
São 14 anos de adolescência, que não vejo muita perspectiva de acabar, se tem uma luz no fim do túnel ainda tá muito longe pra enxergar, ou talvez eu esteja de costas. Uma fase que começou muito cedo e vai terminar tarde, se o prognóstico se cumprir, tende a acabar, mas não tenho mais muita fé nisso.
Não é que minha vida seja ruim, absolutamente nunca foi, não foi por falta de saúde, de amor, de dinheiro, de cuidados, de mimos, de carinho, de amigos. Não foi por falta de nada. Exceto de sanidade.
O mais difícil disso tudo é ler nos "olhos" das pessoas que eu amo que não veem nada alem de ingratidão. Talvez um dia, se eu conseguir me fazer entender, ou se ao menos conseguir mostrar a alguém o que se passa aqui dentro, quem sabe entendam que pensaram sempre o pior de mim. Quando na verdade não era culpa minha. Isso é engraçado por que eu devia ter desistido de me explicar há muito tempo. Por que durante esses 14 anos quanto mais eu tentei pedir ajuda, piores as coisas ficaram. Ta aí um arrependimento que eu carrego. De todas as vezes que eu falei pra alguém do que eu sentia, por que graças a isso, não existe quase ninguém hoje que não me veja com maus olhos. Que não me atribua defeitos que não são meus, e faça vista cega aos que são.
É inteiramente responsabilidade desse meu romantismo, achar que alguém ia entender e me amar apesar de tudo. E por conta dele, tenho que ouvir que eu me acho muito sábia, que acho que as coisas são mais difíceis pra mim, do que para os outros, que não tenho modéstia pra permitir ser ajudada, que não sou leal a ninguém, fiel a ninguém, que sou manipuladora, mentirosa, que me justifico demais, e algumas coisas que doem repetir. Os conselhos são os piores possíveis, não que eu não goste, já não gosto nem desgosto de nada há um tempo, são coisas que eu sei que me afundam ainda mais, mas mesmo assim eu sigo. Já não tenho medo de enlouquecer de vez nem de perder o controle que me mantém lutando, pois quanto mais tento andar na linha mais criticas recebo. E isso é um defeito grave meu, criticas e desaprovação são meus maiores medos na vida, desde criança isso me assombra. São meus maiores pesadelos, e o que tento evitar desde quando me entendo por gente, mas é tudo em vão.
Ultimamente as pessoas nem se dão mais ao trabalho de disfarçar o que pensam de mim. E é tudo ruim. Até quando se vêem obrigadas a ter de dizer uma qualidade minha, dizem coisas rasas: educada, atenciosa, cuidadosa, generosa, nada profundo, nada de bom que diga respeito ao meu caráter.
Eles chamam de choque de realidade.
Penso, se preciso de tantas acusações pra acordar pra "realidade", imagino o quanto pior do que eu penso eu sou pra ter que ouvir tantas coisas ruins.
Enfim, eu queria até dizer que estou cansada... mas já usei a cota dessa palavra e precisaria de uma nova, se não tivesse resolvido adotar o silêncio.
Sei que agora não pedirei mais ajuda, não responderei mais as perguntas sobre como me sinto, o que penso, e do que preciso, cansei de dar circo pras pessoas rirem, mesmo meus pais, sim as pessoas as quais estou me referindo aqui não são meus colegas de trabalho nem ex colegas de escola, falo dos mais próximos, quando me perguntam algo profundo, eu tento responder e o que sai não condiz com a realidade e acabo fornecendo maus uma prova do quão estúpida, insensata e indecorosa eu sou. É como se tivesse um dispositivo na minha garganta que troca as palavras que eu penso em dizer, e quando eu termino de falar não reconheço nada do que disse.
Mas infelizmente as pessoas reconhecem, e se desapontam sempre... principalmente com as contradições. E é muito mais fácil pensar que alguém se contradiz por que é mentiroso do que perceber que a pessoa realmente não consegue falar.
Enfim, não tenho mais esperança de que alguém vá entender isso. Na verdade sei que algumas pessoas no fundo no fundo quase entendem, já me deixaram saber que entendem, mas por azar meu não podem falar. Ultimamente eu me apaixonei por uma pessoa, ou por uma ideia não lembro mais como começou. Mas sei que foi minha ultima ficha, a aposta final. Tudo ou nada. E além de perder o que eu considerava ser tudo, ainda por cima deu em algo pior do que nada. Esperei do fundo do meu coração, reuni forças e esperanças e até ilusões de que ele me entenderia, ou que pelo menos me amaria apesar de, apenas pelo fato de eu amá-lo tanto apesar dos apesares dele. Mas foi de onde partiu a pior dor que já senti na vida. Dentre as emocionais e  as físicas. Não pelo desapontamento, ou pela desilusão nem nada desses problemas comuns de relacionamentos, mas por que ele deu voz ao pior que penso de mim, e ainda a mais do que eu jamais pude imaginar da minha ineficácia de existir. Nunca conheci alguém que dissesse coisas tão duras, tão maldosas, tão cortantes, e que me fizessem sentir tão mal, não que ele me faça sentir mal, mas as coisas que ele disse sim. Nunca nem se quer ouvir falar de alguém que tivesse coragem de rebaixar outra pessoa com tamanha naturalidade e prazer, e que não fosse mentira. E não é que ele seja uma pessoa ruim que fez algo mal, é que ele disse tudo que está entalado na garganta de todo mundo que já me conheceu e foi prejudicado pelas minhas decisões, minhas palavras, meu jeito de ser, minhas mentiras,minhas ausências, minhas passagens, minhas chegadas e minhas partidas. Por aquela vez que menti pra minha vizinha pra ela não gostar mais da outra vizinha do que de mim quando eu tinha 6 anos, por ter sido mesquinha com minhas roupas na escola publica quando eu tinha 7 e por passar meses implicando com normas de etiqueta com a menina que trabalhava lá em casa por ela não levar o garfo a boca e sim a boca ao prato, por ter comido escondida quando tinha 8, por ter dito a diretora que vi que a professora estava desperdiçando material escolar quando eu tinha 9 e não foi verdade, e por como a professora chorou por causa disso e me fez chorar na frente da turma toda e como todo mundo ficou me chamando de mentirosa depois disso, por ter rido do nariz de uma menina quando tinha 10, por bater nos colegas quando tinha 11, pelas respostas grossas que dei a minha mãe quando tinha 12, e por nesse mesmo ano, uma vez ter passado correndo e rindo alto na casa da vizinha a ponto de ela se incomodar e falar com minha mãe do meu péssimo comportamento e minha mãe atribuir a Ailane e que por determinação dela, dizer a minha melhor amiga que ela não me fazia bem e por isso não andaríamos mais juntas e deixá-la chorando e sozinha. Por ter brincado com os sentimentos de alguns garotos quando eu tinha 13, principalmente daquele que andava 7 km pra me buscar no colégio e eu nunca permiti que ele me beijasse e deixei de gostar dele da noite para o dia deixando ele chorando em praça publica sem ao menos olhar pra trás, por ter feito amizade forte com algumas pessoas dos 14 até os dias de hoje e desaparecido pouco depois por que minha família julgou que os aspectos não tão bons da minha personalidade que estavam começando a aparecer eram por influência dessas pessoas, embora eu saiba até hoje que elas não tinham essas características, principalmente pela morte de Judson e Cristiano que esperaram por mim tanto tempo e acabaram morrendo sem que eu tivesse coragem de enfrentar minha família e conversar com eles quando chamaram por mim, pelas meninas da congregação que ficaram com muito ódio de mim depois de eu repetir algo ruim que ouvi sobre elas e não falaram comigo por anos quando eu tinha 15. Por ter namorado escondido da minha família quando eu tinha 16, e por depois deixar esse namorado por outra pessoa sem dar satisfação, por obrigar minha família a vigiar meus passos por causa desses namoros, mais principalmente por ter arruinado a carreira de Wagner quando descobriram que a gente estava junto, por ele ter perdido a cabeça a ponto de me jurar de morte e por Thiago ter de suportar tudo isso sem poder falar nada a ninguém, e por isso até hoje se sentir na obrigação de cuidar de mim por tudo que ele me viu passar em silêncio. Por ter me afundado em tristeza depois desse episódio e me comportado de uma maneira que fez com que minha família nunca mais confiasse em mim embora não estivesse fazendo nada de errado  aos 17 e 18 anos. Por não ter participado de nada que eu queria e que meus amigos queriam que eu estivesse com eles, ter prometido amizade e apoio eterno a várias pessoas que conheci na faculdade e que amo profundamente mas que não posso estar ao lado deles quando precisam, nos momentos difíceis, nem dos alegres, de não ter estado na formatura de nenhum deles e não ter ido ao seu encontro quando praticamente me imploraram por isso, por nem se quer atender os seus telefonemas por estar em casa e saber que minha família iria querer saber quem era dos meus 19 anos para cá. Por ter machucado a todos que conheço com meu ultimo relacionamento e principalmente por ter de algum modo o machucado a ponto de ele ter representado todas essas pessoas a quem causei sofrimentos grande e pequenos em toda minha vida, por me mostrar o quanto eu sou inadequada, estúpida, e falsa. Por ser fraca por todos esses anos a ponto de não fazer nenhuma mudança significativa embora seja o que mais quero fazer mas ao mesmo tempo forte demais pra não executar o plano de suicídio que fiz quando ainda era criança. Por ser fingida ao parecer feliz o tempo quase todo, apesar de uma tristeza que nunca passa e pela ausência da vontade de viver. Por ter depositado em Andrezo minha ultima esperança de cura e paz, enquanto continuo não merecendo isso, sei que te impus um peso muito além do que você pode carregar. E por fim , por não saber como consertar tudo isso.

Mas, por favor não me digam mais os meus defeitos. Não vão fazer diferença, não adianta dar choque de realidade numa pessoa que convive com duas realidades simultâneas como se assistisse a dois filmes ao mesmo tempo,por que eu não sei qual dos dois é a realidade.É sério, eu não sei. Sabe um Déjà vu? Sabe aquela sensação estranha que dá? Pois é, eu não tenho... é como se tudo estivesse realmente acontecendo, os sonhos, a imaginação, a memória, o presente, tudo.É complicado tomar decisões assim. (Só estou dizendo isso por que só disse a uma pessoa, e ele não entendeu, mas é a ultima explicação.)
Enfim, abram os olhos, não está funcionando essa perseguição, essa vigilância, essa desconfiança, não vai dar em nada, como não deu em nada que prestasse nos últimos 14 anos, para nenhum de nós.Também não coloquem Deus na história, parem de representá-lo e falar por Ele, coisas que nem Ele disse, vocês não são Deus. Eu acho que eu e Ele temos relação o suficiente pra nos ajeitarmos e sei que Ele tem feito muito por mim ao permitir que do lado de fora de mim, tudo seja calmaria, pois só Ele sabe de verdade como dentro de mim só existe tempestade.
Estão todos agindo como se estivessem finalmente me colocando contra a parede, exceto meu irmão, como sempre, mas na verdade o que tem atrás de mim é um precipício,sei que não estão fazendo de propósito mas vocês estão me empurrando, e sei que tem uma criatura sombria no abismo que tenta me puxar diariamente pra ele, minhas forças uma hora vão acabar, pra não dizer que já acabaram e já não vejo outra alternativa que não seja: pular.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poético

Puerpério

Des-culpa