Puerpério

Faz parte de deveras construir em si um ser, admitir verdades profundas e ocultas.
Precisamos entrar em contato com as coisas recônditas que passamos e que imaginamos.
Com tudo que tememos, precisamos fazer um pacto. É preciso perdoar as coisas.
Deixá-las ir por vezes, por outras vezes fazê-las ficar, mas por fim encontrar-se com tudo.
Me parece que sempre que estou prestes a me confrontar com as minhas questões, prenuncio.
Ontem mesmo estava estranha, como quem pairou no ar do dia. Distraída. Em estado puerperal.
E hoje pela manhã, em conversa com um amigo, o encontro nasceu.
Entendi o quanto as minhas relações tem sido regadas de passado, memória e rancor.
Percebi em mim uma tendência quase que infantil de ser aceita e amada por todos.
Precisei perdoar isso. Não me entendo lá muito bem com meu pai e sinto que reflito isso em todos os outros homens. Meu pai não me entende. Quero que todos me entendam. Meu pai não me aceita, quero que todos me aceitem. Meu pai me acusa, quero que me defendam. Quero que me deixem ser quem sou, meu pai nunca me deixou. Meu pai me ouve mas não me escuta, então cobro ouvidos e atenção dos outros.
Acho que meu pai não me conhece, busco que me conheçam tanto até estarem fatigados de mim. 
Meu pai talvez não me ame por nenhum motivo se não o fato de que sou sua filha. Exijo de todos que apenas me amem por quem eu sou.
Preciso perdoar meu pai. Preciso perdoar os homens. Preciso me perdoar por isso.

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